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7 de março de 2012

A Guerra das Empresas Pelos Consumidores, o Literal "Ai se eu te Pego!"


PorJack London
Neste país cada vez mais estranho, onde generais em plena campanha militar discursam para tropas inimigas, ganham bolinho de aniversário e choram, vamos caminhando aceleradamente para um mundo de verdades cada vez mais retiradas do bolso do colete, como quem saca uma balinha de menta esquecida no velho terno há muitos anos. A balinha, amolecida e gosmenta, ainda serve e, na falta de melhor glicose, é consumida como iguaria. 


Os leitores que me acompanham conhecem meu perfil profissional, portanto não preciso reafirmar meus compromissos com a internet e especialmente com o comércio eletrônico e a reflexão sobre os caminhos da rede. Mas o que não posso é ouvir ou ler informações que não passam de saques – alguns verdadeiros aces – sem dar um pequeno gemido, uma advertência de quem procura sempre entender sem meias-palavras o que se passa. 

Depois de mais de 15 anos de uso do comércio eletrônico, aqui e alhures, temos de admitir que alguma coisa não vai bem e que as projeções e as certezas do início do século 21 não estão se realizando. Não falo de usos da internet como instrumento de mídia de massa, como instrumento de transações bancárias e atividades de turismo, entre outros tantos setores em que a internet veio e ficou. Refiro-me especificamente ao varejo on-line. 

Em 2011, nos Estados Unidos, as vendas totais do varejo vão chegar a cerca de US$ 4,2 trilhões, enquanto as vendas totais do e-commerce chegarão perto de US$ 190 bilhões. O e-commerce representa, nos EUA, cerca de 5% das vendas totais do varejo. 

No Brasil, o varejo total cresceu cerca de 7%, chegando a ultrapassar a barreira de R$ 700 bilhões em 2011. No mesmo período, o crescimento das vendas nos shoppings foi de espantosos 18%, levando o faturamento desse setor para cerca de R$ 108 bilhões, ou seja, um resultado equivalente a mais de 15% do total do varejo brasileiro. Claro que shoppings não são apenas varejo, mas o que interessa nessa discussão é o empuxo do crescimento. 

Pelas previsões da e-bit, empresa responsável pelo levantamento dos dados de e-commerce no Brasil, vamos chegar a R$ 18 bilhões em vendas em 2011, com crescimento de 25% sobre 2010. Esse resultado indica que o e-commerce representa apena 2,5% do varejo brasileiro. Resumindo: depois de mais de 40 anos da abertura do primeiro shopping brasileiro, o setor cresce 18% ao ano, enquanto a internet, com menos de 20 anos, cresce 25%. 

Em 2010, o faturamento do varejo total cresceu os mesmos 7% de 2011, enquanto os shoppings cresceram 9%, contra 18% em 2011. O e-commerce cresceu 40% em 2010, contra 25% em 2011. Dos três, o único que reduziu suas taxas de crescimento foi o e-commerce. 

Falando claramente: um aumento anual de 25% sobre uma base tão pequena é muito pouco. Nosso e-commerce só alcança, no total das vendas, metade da participação que tem o e-commerce norte-americano. Nosso PIB é hoje seis vezes menor do que o PIB norte-americano, mas nosso e-commerce é quase dezesseis vezes menor do que o norte-americano. 

Em anos anteriores, de 2000 até 2010, o crescimento anual de nosso e-commerce foi sempre acima de 40%. Com os shoppings crescendo a 18% e o e-commerce a 25% ou até menos em 2012 (já se fala em alguma coisa entre 12% e 15%), alcançaremos a estabilidade, em um patamar muito baixo, desse modelo de negócios no Brasil? Com tanta imprensa a favor, afinal, o que vem acontecendo com as compras virtuais no Brasil? 
Ou nos Estados Unidos, onde grandes empresas de consultoria preveem que, em 2020, cerca de 30% do varejo norte-americano será virtual? 

A lamentar também uma característica própria de nosso mercado: nos EUA, o US Census Bureau News levanta todos esses dados conjuntamente e os divulga regularmente. No Brasil, você pode escolher a origem dos dados, dispersos em diversos órgãos. No caso deste artigo, o total do varejo vem do CNDL, o dos shoppings vem da Abrasce, e do e-commerce, da e-bit. 

Serão esses dados compatíveis entre si? 

Em todo caso, faça sua própria mensuração: em 2011, você comprou (em valores) 50% a mais pela internet ou apenas manteve um patamar que já tinha alcançado anos atrás, com pouca variação? E o impacto das classes C e D na internet, para onde foi? 

Temos mídia atenta ao tema, temos empreendedores cada dia mais bem estruturados, temos um país de 90 milhões de compradores, temos um uso de mídias e redes sociais cada vez mais intenso. Mas onde estão os consumidores do varejo on-line? O que falta para que sejamos capazes de aumentar o nível da atividade? Quem sabe uma nova versão do “ai se eu te pego” capaz de seduzir mais e melhores consumidores? 

Enquanto isso, 90% dos artigos que você encontra na rede continuam falando no crescimento explosivo da internet no varejo. 

Balinha velha e gosmenta? Não, obrigado, estou fora. 

P.S.: E a campanha de mídia do Sundown, na qual a internet é apresentada como inimiga do sol, da praia, da vida natural, do Sundown? Podemos não vender o que queremos, mas sabemos fazer adversários. E os memes, quando será a sua vez? Você já incorporou à sua vida o “vada a bordo, cazzo!”, cada vez que quer “acordar” alguém? E a sua Luiza, ainda está no Canadá? E os seus consumidores, já estão cientes do que você fará na hora do “ai se eu te pego...”? 
E a Kodak, de saudosa memória, que tal um réquiem silencioso? 
Fonte: PEGN
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