Nesta segunda-feira, o Google deixou os mercados de olhos arregalados ao anunciar a aquisição da Motorola Mobility, fabricante de tablets e celulares. O preço: 12,5 bilhões de dólares, a maior operação já realizada pela gigante de buscas. Certamente, há diversas razões mais ou menos visíveis
para um negócio desse tamanho. Mais importante, por ora, é o fato de que usuário poderá sair ganhando com a operação.
para um negócio desse tamanho. Mais importante, por ora, é o fato de que usuário poderá sair ganhando com a operação.
Declaradamente, o Google está de olho nas patentes da Motorola Mobility – são 17.000 já sob sua propriedade e outras 7.500 a caminho. Controlando o direito de uso dessas invenções, a empresa escapa de disputas jurídicas, muito comuns no setor de tecnologia. As patentes incluem itens tão diversos quanto o design de aparelhos e o funcionamento de aplicativos e sistemas móveis. Sem dominá-las, o Google tem sido alvo de processos que cobram da gigante o pagamento por seu uso. "O Google se esforçou na aquisição de patentes nos últimos leilões, mas não se saiu muito bem. A compra da Motorola foi uma saída. A partir de agora, a companhia poderá criar novas ferramentas sem a necessidade de pagar royalties a terceiros", diz Fernando Belfort, analista sênior da consultoria Frost & Sullivan.
Mas o Google não está apenas atrás de tal proteção legal. A aquisição da Motorola Mobility tem poder de intensificar o aperfeiçoamento de seu sistema operacional para dispositivos móveis, o Android, além de forçar melhorias na fabricação dos aparelhos (próprios ou de terceiros) que ganham vida com esse sistema: smartphones e tablets.
A empresa já havia tentado isso no passado, ao firmar parceria com fabricantes para a produção de aparelhos. É o caso do Nexus One, da HTC, e do Nexus S, da Samsung – tentativas malfadadas, infelizmente. Ambos recebem atualizações integrais do Android, ou seja, a versão do sistema operacional que sai da cabeça dos engenheiros do Google. Isso garante aos aparelhos mais estabilidade e total compatibilidade com os aplicativos mais modernos do mercado – algo que é invejável no iOS, do iPhone. O reverso desse mecanismo tem prejudicado o usuário. Empresas como Sony e a própria Motorola costumam fazer intervenções no Android, inserindo recursos e interfaces exclusivas para seus aparelhos. Essas alterações podem atrasar ou mesmo tornar inviável a atualização do sistema operacional nos dispositivos, deixando o mercado repleto de smartphones com versões diferentes e que nem sempre são capazes de desfrutar de todos os aplicativos disponíveis nas lojas virtuais.
Com as linhas de produção da Motorola Mobility sob controle do Google, deve emergir um padrão unificado para celulares e tablets, que explore integralmente os recursos oferecidos pelo Android. Na prática, isso desaguará o que, nas palavras da Apple, é traduzido como "experiência mais prazerosa ao usuário". Ao assumir o controle sobre hardware, software e distribuição, a gigante poderá oferecer um produto completo – sem riscos de incompatibilidade de hardware e programas. O passo seguinte será induzir outras empresas que adotam o Android a fazer o mesmo. Um novo celular com a última versão do sistema, e com capacidade para rodar todos os aplicativos disponíveis no mercado oficial, pode abrir os olhos dos competidores que oferecem uma experiência falha e incompleta, mas que possuem capacidade para fazer produtos melhores.
A padronização do Android deverá ainda ter um efeito positivo sobre os desenvolvedores independentes de aplicativos. Atualmente, eles sofrem com a variedade de versões do Android disponíveis no mercado. Para alimentar aparelhos que rodam com versões que vão da 1.6 à 2.3, aqueles profissionais são obrigados a refazer boa parte de seus trabalhos, adequando seus produtos a cada uma delas. Um jogo que roda no sistema mais antigo pode não funcionar no mais novo; se for desenhado para rodar no mais velho, não poderá utilizar recursos do mais recente.
O resultado disso tem sido o desinteresse dos desenvolvedores pela plataforma. Em maio, o IDC, instituto especializado em análise de mercado, revelou que 86% dos entrevistados estavam interessados em produzir aplicativos para iPad, tablet da Apple, ante apenas 70% interessados em aparelhos que rodam com Android. Dessa forma, se o Google levar a cabo o projeto que começou a delinear nesta segunda-feira, o iPhone poderá ter um competidor à altura.
Fonte: Veja