É um erro avaliar como fracasso a participação do Brasil nos Jogos
Olímpicos. O que se vê em Londres é reflexo da política esportiva que o
País desenvolve. Há que se ponderar, porém, que o Brasil tem sim seus
atletas “amarelões”. Alguns simplesmente não conseguem chegar ao auge
quando deveriam, os Jogos Olímpicos. Mas por que isso ocorre?
Um dos argumentos contrários ao tênis nas Olimpíadas é o fato de o
esporte ter seu auge fora dos Jogos (nos Grand Slams). Contrapõe-se a
este argumento a tese de que, nas Olimpíadas, os atletas estão
finalmente representando seus países, e não a eles próprios. A semifinal
de Londres, na qual Roger Federer e Juan Martin Del Potro saíram
claramente emocionados na sexta-feira 3, foi prova disso. O choro de
Victoria Azarenka ao conquistar o bronze para a Bielorrússia neste
sábado 4 também é. Os três, incluindo o suíço Federer, conhecido por sua
frieza, estavam claramente em um estado fora do normal.
Nos Jogos Olímpicos, é também possível verificar como atletas de
esportes diferentes e que talvez nem se conheçam fazem parte de uma
mesma equipe. Assim, o que um faz pode influenciar os outros. Nesta
edição, o time do Reino Unido demorou a engatar medalhas de ouro. As
primeiras vieram no dia 2, com as remadoras Helen Glover e Heather
Stanning e o ciclista Bradley Wiggins. Veio, então, segundo o Guardian, o
“alívio” pelo fim da seca. O presidente do Comitê Organizador, o
ex-atleta Sebastian Coe, foi enfático ao comemorar. “Vencer é
contagioso”, disse ele.
O óbvio entendimento da frase de Coe é um só: quando saem as
primeiras medalhas de ouro de um país, os atletas que competem a seguir,
em qualquer esporte, ganham mais confiança. Com segurança para
competir, sabe qualquer esportista, a vitória fica mais fácil.
É preciso notar, entretanto, que os atletas britânicos estão
preparados para serem campeões olímpicos e que há muitos nesta condição.
Isso é fruto da forma como Reino Unido trata o esporte. No caso do
Brasil, a coisa muda de figura. Há muitos brasileiros competindo em
Londres, mas pouquíssimos em condições de ganhar medalhas. Assim,
resultados ruins são comuns, e não poderia ser diferente.
Quando um dos que tem chance de medalha é derrotado, por exemplo
Leandro Guilheiro ou Cesar Cielo, o que é perfeitamente comum em
competições de alto nível, a confiança de todos fica abalada. Surgem os
pedidos de “desculpas” ao povo brasileiro, a “torcida” para que o país
consiga medalhas em outras modalidades. A imprensa, que vai em peso aos
Jogos e se concentra nos esportistas que têm mais chances, mostra a eles
o tamanho da “responsabilidade”. Os atletas menos preparados
psicologicamente, como Diego Hypólito no domingo passado e Fabiana Murer
neste domingo 4, sucumbem.
Ceder à pressão não é exclusividade dos atletas brasileiros. No judô,
o Japão, melhor do mundo no esporte que criou, conseguiu apenas um
ouro, desempenho muito abaixo do normal. Na sexta-feira 3, o panamenho
Irving Saladino, campeão olímpico do salto em distância, queimou suas
três tentativas e nem foi para a final. Os americanos Todd Rogers e Phil
Dalhauser, campeões no vôlei de praia, caíram nas oitavas de final.
Neste domingo 4, a russa Maria Sharapova foi massacrada pela americana
Serena Williams na final do tênis.
Se nos Jogos Olímpicos vencer é contagioso, fracassar também é. Com
uma equipe grande, porém sem muitas esperanças de medalha, o Brasil só
experimenta o contágio ruim. Derrotas normais viram um “fracasso”,
cria-se um clima de desespero, atletas que brilham quando as competições
não são transmitidas afundam e, assim, alimenta-se o círculo vicioso de
derrotas. Talvez, no Rio-2016, com a torcida a favor, parte deste ciclo
seja rompido. Enquanto o Brasil não tiver uma política esportiva para
formar atletas de ponta em quantidade razoável, porém, a pressão
psicológica vai continuar a ter papel de destaque nos resultados dos
atletas brasileiros.
Texto de José Antonio Lima da Carta Capital