O ator Ricardo Pereira relembra o quanto a publicidade marcou sua carreira e fala sobre as vantagens do intercâmbio entre nosso País e a Península Ibérica.
Por Bárbara Sacchitiello
O ator português Ricardo Pereira adotou o Brasil como seu lar há quase quatro anos. Contratado da TV Globo, ele fez um trabalho de aprendizado do português “brasileiro” para ampliar sua versatilidade. Como resultado, ganhou papéis de protagonista e dá continuidade a projetos no teatro e no cinema. Nessa entrevista, ele relembra o quanto a publicidade marcou sua carreira e fala sobre as vantagens do intercâmbio entre nosso país e a Península Ibérica.
Como foi sua adaptação ao Brasil?
RICARDO PEREIRA ›› Sempre tive uma ligação muito forte com o Brasil. Quando era modelo, em Portugal, morei com brasileiros. Há nove anos, a Globo me convidou para fazer alguns trabalhos aqui e, depois, fiquei me dividindo entre Brasil e Portugal. Aí, há quase quatro anos, decidi me estabilizar no Brasil para focar meu trabalho como ator. Do ponto de vista profissional foi ótimo. Fui vilão na minha primeira novela das 21h (Insensato Coração) e pude fazer um protagonista de uma novela leve, em Aquele Beijo. E, do lado pessoal, minha ligação com o Brasil ficou ainda maior no ano passado, quando meu filho nasceu aqui (ele é pai de Vicente, de um ano, fruto do casamento com a portuguesa Francisca Pinto).
É perceptível que você não tem mais o sotaque português. Como foi essa mudança?
PEREIRA ›› Isso tem a ver com o próprio trabalho de ator. Desde quando comecei a fazer novelas aqui eu já tentava não carregar tanto no sotaque português. Eu falo francês, espanhol, inglês, português de Portugal e agora o português do Brasil. E o curioso é que eu não perdi meu sotaque original. Isso é válido para a publicidade, também. Fiz uma grande campanha para a Peugeot (criada pela Loducca, com produção da Trator Filmes) este ano, totalmente falada com sotaque brasileiro.
E já que falou em publicidade, conte um pouco da sua trajetória nessa área.
PEREIRA ›› Acho que já fiz mais de cem campanhas. Meu sonho é conseguir reunir todas as minhas peças publicitárias. Acabei sendo empurrado para a área de ator justamente por conta delas. Fiz trabalhos globais para muitos produtos. Isso despertou uma paixão pela publicidade que me acompanha até hoje. Acho que publicidade é mais uma face de atuação para o ator. Em Portugal, sou garoto-propaganda de um banco há seis anos e de várias outras marcas.
Além de fazer campanhas, você também gosta de assistir aos comerciais?
PEREIRA ›› Claro que sim! Tenho amigos publicitários que me presenteiam com DVDs das campanhas brasileiras premiadas em festivais internacionais. Acho aquilo o máximo. Em Portugal temos muitos diretores e criativos brasileiros. Mas a publicidade veiculada em Portugal é um pouco mais séria do que a brasileira. Aqui é diferente, a gente ri por tudo. É ótimo (risos).
Você começou sua carreira de ator em Portugal. Lá também existe essa paixão por novelas como existe no Brasil?
PEREIRA ›› Apesar de ter iniciado a produção de telenovelas há menos tempo, Portugal tem verdadeira paixão pela teledramaturgia. Há cerca de 20 anos, quando o país começou a ter canais privados de TV, a produção aumentou muito e qualidade também.
No Brasil, a disputa pela audiência é algo que norteia as atividades das emissoras. Em Portugal ela também é acirrada?
PEREIRA ›› Sim. Até porque isso é o que influencia diretamente a publicidade. Quando existia somente a TV estatal, ela tinha audiências de 70%, 80%. Depois, com a chegada das privadas, isso mudou. A primeira delas que surgiu — a SIC — tinha, no início, share de 60%. Agora, todos os canais, públicos e privados, estão pegando um pedacinho da audiência.
E o intercâmbio entre atores brasileiros e portugueses parece ter aumentado também.
PEREIRA ›› Na verdade, ele sempre existiu. Assim como eu, muitos atores também vieram fazer trabalhos no Brasil e acho que outros ainda virão. Isso é muito bom. A primeira novela que fiz em Portugal tinha a participação de dois atores brasileiros. Portugal e Brasil têm se aproximado muito, tanto em termos de cultura quanto economicamente. E isso deverá ser ampliado ainda mais, pois a partir do dia 7 de setembro iniciaremos as celebrações do ano do Brasil em Portugal. Irão acontecer muitas coisas nas áreas da gastronomia, música, dança, cultura. As festividades irão até 10 de junho de 2013 e será uma forma ótima de aproximar ainda mais as duas nações.
Em Portugal também existe essa percepção de que o Brasil é a bola da vez?
PEREIRA ›› Sem dúvida! É inegável o destaque do Brasil, não só pelos eventos que irá receber como pelo recente histórico econômico. Tenho amigos portugueses que estão se mudando para cá por conta disso, o que me deixa muito feliz e orgulhoso.
Quais são seus planos para o restante do ano?
PEREIRA ›› Como vim de duas novelas seguidas, me dedicarei ao teatro, que foi onde comecei minha carreira de ator. Em maio estreei a peça Um Sonho para Dois, junto com a Fernanda Souza. Também farei um trabalho interessante que é um audiolivro da obra Fernando Pessoa – Uma Quase Biografia (obra do escritor José Paulo Cavalcanti Filho, que foi premiada na Bienal de Brasília). Eu farei a narração no idioma português de Portugal. E é legal porque também trabalhei como locutor, como dublador, durante muitos anos, e adoro isso. Na TV, devo começar um trabalho novo no final do ano.
Fonte: meioemensagem