Um é o autor de alguns dos quadrinhos de maior sucesso da atualidade. O outro é um dos personagens fictícios mais amados das últimas décadas. Mas o encontro entre Alan Moore e Harry Potter não promete ser exatamente feliz ou sem traumas: afinal, na próxima edição de A Liga Extraordinária o bruxinho deve aparecer como o anticristo que trará o apocalipse ao mundo.
Mas vamos ao começo dessa história. Se você não sabe, Alan Moore é o autor de, entre outras coisas, Watchmen e V de Vingança, e também escreveu a série A Liga Extraordinária. Se você está pensando no filme estrelado por Sean Connery em 2003, pode esquecer! A adaptação não foi nada fiel, e não conseguiu retratar todo o peso da sátira cheia de referências à História da Literatura Ocidental (principalmente britânicas).
Agora, a última edição da série chega para provar que Moore levou essas referências atuais a um novo patamar. Em Century 2009, Mina Murray, Allan Quartermain e os outros personagens chegam aos dias presentes, quando enfrentam o apocalipse e o nascimento, já previsto, do anticristo – que, ao que parece, tem uma cicatriz escondida e um mentor chamado Riddle. A edição sofreu um pesado embargo na mídia americana, mas Laura Sneddon, que escreve para o blog Comicbookgrrrl, conseguiu colocar suas mãos na única cópia disponível para crítica.
Na crítica publicada pelo The Independent, Sneddon explica: “Em nenhum momento Moore utiliza as palavras ‘Harry’ ou ‘Potter’, mas um trem mágico, escondido entre as plataformas da estação King’s Cross, que leva a uma escola de magia [...], realmente sugere uma ligação com o Menino Que Sobreviveu.” A cicatriz e o nome do mentor (Riddle é um referência ao verdadeiro nome de Lord Voldemort) completam o quadro.
Mas as semelhanças devem acabar por aí: a escola descrita por Moore não tem nada a ver com a saudável e amigável Hogwarts. “Há flashbacks de uma raiva adolescente psicótica, enquanto crianças imploram por suas vidas, tudo isso espalhado, junto com corpos derretidos”. O anticristo é descrito como “uma pessoa excessivamente grande, sob influência de anti-psicóticos”, o que não bate exatamente com o personagem criado por J.K. Rowling.
Com tudo isso, os fãs de Harry Potter devem ficar furiosos com o retrato de seu herói como “a criança mágica, cuja sinistra vinda foi predita pelos últimos 100 anos” e que agora está prestes a liberar “sua prometida era de terror sem fim”, começando com o norte Londres. Mas Sneddon, que chamou Moore de “talvez o maior escritor de HQ do nosso tempo”, disse que o autor sempre fez questão de ressaltar que as edições de A Liga são sátiras, e que ele tem respeito por todos os personagens que aborda ou se refere a, na esperança de que as pessoas enxerguem por trás da referência a Harry Potter e consigam apreciar o papel. Veremos se J.K. Rowling pensará desse modo.
Fonte: Monet