Até pouco tempo atrás a sessão de terapia era vista como um lugar onde as pessoas iam para consertar o que havia de errado com elas. De fato, por mais de 60 anos, a psicologia trabalhou com o “modelo de doença”, dedicando-se, em grande parte, a fazer com que compreendessemos o que nos fazem infelizes, no intuito de tentar remediar. O resultado foi uma ciência capaz de lidar com uma variedade de enfermidades mentais e emocionais, mas pouco apta a explicar a felicidade.
Com o intuito de se aprofundar nessa área, na década de 90, profissionais de alguns dos maiores centros de estudos em Psicologia – tais como os das Universidades de Havard, Yale, Pennsylvania e Michigan – se reuniram para discutir os possíveis caminhos rumo à uma vida de maior satisfação e significado. Foi assim que nasceu a psicologia positiva, uma abordagem preocupada tanto com desenvolver os nossos pontos fortes quanto consertar danos.
Os variáveis da felicidade
Essa nova visão busca entender como cada aspecto da nossa vida – seja religião, idade, dinheiro, sexo, etc – influencia o nosso nível de felicidade. Os professores Eunkook M. Suh e Shigehiro Oishi, por exemplo, fizeram um estudo sobre culturas no qual eles mostraram que pessoas que vivem em sociedades individualistas – nas quais existe uma relação de independência do indivíduo face ao grupo, como é o caso no Brasil – são, em geral, mais felizes do que aquelas que vivem em sociedade coletivistas, como na China. Já o pesquisador Jan-Emmanuel de Neve atribui oscilações em felicidade a um gene chamado 5-HTT, que regula o transporte de serotonina, um químico que associa o sentimento de bem-estar ao cérebro. De acordo com ele, esse gene faz com que algumas pessoas sejam inerentemente mais felizes que outras.
Tudo isso faz sentido, mas resta uma pergunta. Como podemos usar essa informação para alcançar uma vida melhor? Afinal, muitos dos elementos que supostamente nos fazem mais ou menos felizes não podem ser alterados. Por exemplo, um indivíduo não tem como mudar a sua idade ou a sua nacionalidade. Entretanto, isso não significa que ele possa ser mais feliz amanhã do que é hoje. Em uma pesquisa recente, Sonja Lyubormisky diz que a felicidade depende 50% de tendências genéticas, 10% de circunstâncias e 40% de atividades intencionais. Ou seja, mudança está ao nosso alcance.
A equação da felicidade e os quatro tipos de vida
Foi pensando exatamente nesse poder de transformação que Martin Seligman, o pai da psicologia positiva, criou a fórmula da felicidade – “PERMA” – onde ele cita os cinco elementos essenciais para atingir o verdadeiro bem-estar:
1. Emoções positivas como paz, gratidão, inspiração e prazer;
2. Compromisso e engajamento com situações, atividades e tarefas;
3. Relacionamentos positivos com aqueles que nos rodeiam;
4. Significado ou propósito, ao ir em busca de algo que é maior do que nós mesmos;
5. Realização ou conquista de um objetivo.
Ao avaliar o nível de cada uma dessas variáveis é possível determinar o tipo de vida que uma pessoa leva. Para aqueles que vivem a vida agradável, o foco está nos sentimentos positivos e no desenvolvimento de habilidades para aumentar essas emoções. Já quem experimenta a vida boa, sabe utilizar suas forças para atingir a produção gratificante. Segundo o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi esse estado de estar completamente engajado em uma atividade é chamado de “flow”. Aqueles que vão um pouco além, experimentam a vida significativa que define-se pela busca de alguma coisa maior do que nós mesmos, como, por exemplo, o trabalho em instituições positivas. Finalmente, quem consegue integrar todos esses elementos de forma harmoniosa vive a vida plena.
Mas para que tanta felicidade?
Em 2000, a pesquisadora Barbara Fredrickson descobriu que emoções positivas possuem uma finalidade muito maior do que a de promover o bem-estar. Segundo o seu estudo, sentimentos como alegria, otimismo, esperança fortalecem nossos recursos intelectuais, físicos e sociais, além de promover uma disposição mental expansiva, tolerante e criativa, deixando pessoas mais abertas a novas ideias e experiências.
Por isso os usos da psicologia positiva não se limitam apenas ao indivíduo e sua vida pessoal. Em 2008, por exemplo, a Geelong Grammar School situada em Victoria, na Austrália, decidiu implementar o modelo a fim de estimular o crescimento de seus alunos através do uso de comentários positivos. De fato, são muitas as iniciativas que tem como base esta teoria, tais como o FIB – Felicidade Interna Bruta –, o Instituto da Felicidade, em Portugal, e o Instituto de Psicologia Positiva, no Brasil, que mostram cada vez mais o nosso interesse em entender esse assunto.
O que esse pensamento deixa para trás?
A noção de que a psicologia se interessa somente em consertar danos. A psicologia positiva adiciona ao clássico papel curativo da psicologia convencional, o estudo de uma vida com mais satisfação e significado – a felicidade plena.
Por Emi Sasagawa
Fonte: As Boas Ideias