Em 2003, parecia que não haveria outra rede social mais popular do que o MySpace. Até que no meio do caminho apareceram duas pedras – enormes – que praticamente provocaram um êxodo de usuários: Facebook e Orkut. Com isso, aquela rede social ficou relegada ao ostracismo digital, com poucas novidades, poucos usuários e pouca publicidade. “O que aconteceu com o MySpace foi um acidente de percurso”, afirma Edney Souza, vice-presidente de publishers da boo-box, empresa de tecnologia em publicidade para mídias sociais. “Era para ser uma rede social focada em música, nos artistas e seus fãs, mas acabou se tornando uma rede mais genérica por causa de uma necessidade de mercado.”
Quando o Facebook e o Orkut apareceram, acabaram atraindo esses usuários, oferecendo mais possibilidades e utilidades. O YouTube também chegou para se tornar um canal para ouvir os seus artistas favoritos, e sites como Last FM, com mais funções, roubaram os grandes fãs de música. “Faltava um diferencial competitivo, algo que ele oferecesse para os artistas e fãs que outras redes que surgiram depois não tivessem”, diz Souza. “E também faltou investimento em marketing.”
Em 2005, os fundadores da empresa, Tom Anderson e Christopher DeWolfe, venderam-na por US$ 500 milhões para a News Corp. Depois, em 2011, a rede foi comprada por US$ 35 milhões pela Specific Media e ninguém menos do que o músico e ator Justin Timberlake. Depois de muitas reformulações, o próprio Timberlake divulgou um vídeo do que será essa tentativa de volta por cima do MySpace. Confiram:
Pelo vídeo, podemos perceber que o foco realmente vai ser a música – e nada melhor do que ter Justin Timberlake como porta-voz e garoto propaganda – e há a integração da rede com o Facebook e Twitter. O design ficou mais limpo e moderno e parece se apoiar fortemente em imagens, textos curtos e novas funcionalidades que envolvam o universo musical.
Mas será que dessa vez vai?
Segundo Souza, a integração com outras redes sociais já é um passo importante. “O MySpace precisa desenvolver recursos para música que os artistas e os fãs gostariam de ter”, afirma. Para Marcel Werdesheim, um dos fundadores da agência de marketing digital Profite, a rede social também precisa renovar sua usabilidade e a forma como as pessoas acessam seu conteúdo. “O Orkut e o Facebook atraíram muitos dos usuários do MySpace porque também eram mais fáceis de usar”, diz.
O poder de se tornar um canal entre artistas e seus fãs é apontado pelos dois como algo importante a ser explorado. E é preciso ter em mente, porém, que competir com o Facebook é impossível. “Tentar bater o Facebook nunca será viável. Agora, se o MySpace se adaptar a esse público apaixonado por música e oferecer ferramentas para os artistas e gravadoras analisarem o comportamento dessas pessoas, eles terão chance de voltar com tudo”, afirma Werdesheim.
O poder dos dados
Para Everson Lopes, diretor do Ideiasnet, empresa de venture capital, uma compra como a do MySpace não deveria ser feita sem antes considerar o valor da rede, e para uma empresa de tecnologia um dos aspectos mais valiosos é a quantidade de dados que ela já possui. “Ele já tem um grande histórico de informações e dados sobre usuários que gostam de música”, diz. “Ele pode ter um novo sucesso contanto que saiba usar essas informações, renove o seu modelo de negócio e tenha em mente como desenvolvê-lo.”
Lopes diz que uma aquisição como essa poderá ser positiva se a Specific Media conseguir integrar outras funcionalidades de sua própria empresa no MySpace. Ser uma vitrine para novos artistas, uma forma de divulgar trabalhos novos, pode ser uma alternativa para atrair gravadoras, por exemplo.
Por último, Lopes afirma que está na hora de o MySpace se concentrar na experiência do usuário. “Quando foi adquirido, em 2005, ele só pensava em faturar com publicidade, e a usabilidade foi se deteriorando”, afirma. “Já o Facebook desenvolveu a experiência do usuário antes de tentar capitalizar sua rede.”
Por enquanto, o MySpace não revelou quando voltará ao ar com suas novidades. Resta aguardar para ver se essa rede de música terá um “comeback” digno de artistas musicais, na linha Britney Spears, ou se será realmente o fim da sua carreira.
Fonte: PEGN